quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Ciclo de Literatura Russa 2014

Em breve, mais informações.



Ministrado pelo professor Nicotti


Programação Porto Alegre e Caxias do Sul


Primeiro Semestre

CURSO DOSTOIÉVSKI I
Vida e obra de Dostoiévski & Memórias do Subsolo
Crime e Castigo
O Idiota
Os Demônios
Os Irmãos Karamázov


CURSO DOSTOIÉVSKI II
Gente Pobre.
 O Duplo.
A Senhoria & Noites Brancas.
Niétotchka Niezvânova.
Humilhados e Ofendidos.
Recordações da Casa dos Mortos.
Um jogador.
O Eterno Marido.


CURSO 3 CLÁSSICOS RUSSOS I
O Mestre e Margarida (Mikhail Bulgákov).
Doutor Jivago (Bóris Pasternak).
Oblomov (Ivan Gontcharóv).





Segundo Semestre


CURSO TOLSTÓI   I
Vida e obra de Tolstói & A Morte de Ivan Ilitch.
Sonata a Kreutzer.
Anna Kariênina.
Guerra e Paz.


CURSO TCHÉKHOV I
Vida e obra de Tchékhov & A Dama do Cachorrinho / Angústia.
Aniúta / Olhos Mortos de Sono / Minha Vida.
Enfermaria n6
Teatro de Tchékhov & A Gaivota
O Jardim das Cerejeiras.
 As Três Irmãs.


CURSO 3 CLÁSSICOS RUSSOS II
O Músico Cego (Vladimir Korolénko).
 Os Sete Enforcados (Leonid Andreiév).
Verão em Baden-Baden (Leonid Tsípkin).



Locais dos Cursos em Porto Alegre:
Absolutto (Rua André Puente, 354 – Bairro Independência – 51-3222-1111);
Palavraria (Rua Vasco da Gama, 165 – Bairro Bom Fim – 51-3268-4260).

Inscrições:
Absolutto (Rua André Puente, 354 – Bairro Independência – 51-3222-1111) ou secretaria.absolutto@gmail.com
Número mínimo de participantes para cada turma: 10
  


Local do Curso em Caxias do Sul:
Cursão-Premium (Rua Os 18 do Forte, 1771 – Bairro Centro – 54-3221-3455).
Do Arco da Velha (Rua Dr. Montaury, 1570 - Bairro Centro - 54-30281744), no caso, os cursos 3 Clássicos Russos I e II.

Inscrições:
Cursão-Premium (Rua Os 18 do Forte, 1771 – Bairro Centro – 54-3221-3455).
Número mínimo de participantes: 10

Os Irmãos Karamázov - F. M. Dostoiévski


OS IRMÃOS KARAMÁZOV (1880) 

(Brátya Karamázovi /Братья Карамазовы



     Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski faz o primeiro esboço de Os irmãos Karamázov em 1874. No ano seguinte, continua a pensar na construção do romance, já imaginado com um irmão ateu, outro fanático e um que representa a nova geração. Em 1878, começa o trabalho preparatório, tarefa costumeira de confeccionar suas histórias: notas, resumos, planos e leituras se intensificam. No dia 16 de maio, morre seu filho de 3 anos, Alieksiêi, vitimado pela epilepsia. Quando da redação do romance O idiota, iniciado em Genebra e concluído em Florença, uma tragédia também se abate em Anna Grigorievna Dostoiévskaia e Fiódor Dostoiévski, pois a primeira filha do casal morre pouco tempo depois de nascer. Aconselhado por Anna Grigorievna, Dostoiévski parte com o filósofo V. S. Solovíov ao mosteiro de Optina. Dostoiévski utiliza esta experiência, assim como pesquisas e detalhes com religiosos, como sobre as imanações monacais, exploradas no Livro VII, capítulo 1 do segundo volume de Os irmãos Karamázov, denominado Cheiro Deletério

   O próximo passo para Dostoiévski é continuar com a amplitude psicológica de seus personagens de modo que estes venham a metaforizar (e tornarem-se, também, metonímias) a sociedade russa da segunda metade do século XIX e suas relações de poder socioeconômico, ideológico e cultural. A família Karamázov espelha esta Rússia, seja através do aprofundamento intelectual de Ivan Karamázov, ou da nobreza e da devassidão de Dmitri Karamázov e, finalmente, do humanismo universal de Aliócha Karamázov. Paralelamente aos irmãos legítimos, corre a sombra inteligente e grotesca de Smierdiákov, filho bastardo e rejeitado pela família, e do próprio pai dos quatro “irmãos” (há a sugestão no enredo da ligação paterna de Fiódor com Smierdiakóv), homem vil, devasso, lascivo, rompedor da própria estrutura familiar em seus dois casamentos e ladrão de Dmitri tanto nos bens materiais como na tentativa de tirar-lhe, também, a noiva Grúchenka através do dinheiro do próprio filho.


     As metonímias oferecidas pela crítica em nível de pai e filhos karamazovianos é ampla, assim como a dimensão é a característica da elaboração do autor para seus personagens. 



     Ivan Karamázov, intelectual, teórico da justiça e da injustiça e porta-voz de um pensar erudito, guiará a mão (e a cabeça observadora e invejosa) de Smierdiakóv para o assassínio de Fiódor Karamázov. Julgando-se o verdadeiro culpado pela morte de Fiódor, dialoga com o diabo e, num delírio nervoso e autodestrutivo, no tribunal que julga seu irmão Dmitri, afirma que matou o próprio pai por induzir o “débil mental” do rejeitado Smierdiakóv. Na ocasião do julgamento, é conduzido para fora do tribunal, sendo cuidado, em estado de inconsciência, em casa de Catierina Ivánovna, pelos médicos Varvinski e Herzenstube, ambos da província. 

     Dmitri Karamázov é o instinto nobre e bestial da nobreza russa, instintivo e bestial como Fiódor, assim como Ivan é parecido, como apresentado no enredo, com Fiódor, embora sem a prática lasciva do pai. O povo condena Dmitri, representado pela escolha de jurados mujiques, funcionários públicos e um comerciante. 

      Aliócha revela explicitamente o contraste entre aqueles de sua família (e sua família por extensão) e a vida enclausurada (e apta à pureza mas também a invejas e fofocas – através, por exemplo, de Rakítin, o jovem noviço e primo legítimo da prostituta Grúchenka) dos monges, dos padres, dos hieromonges e dos stárietz. 

    Smierdiakóv é o filho ilegítimo, cozinheiro da família e criado por Grigori e Marfa Ignátievna, empregados de Fiódor. Como o casal perde o filho recém-nascido e encontra, tempos depois, Lizavieta Smierdiáschaia parindo em anexo da casa de Fiódor, toma para si (com a morte de Lizavieta) a criança que vem ao mundo. Grigori passa a criança à esposa para esta criar. O rebento é ingrato com Grigori para o resto da vida. Tônica de sua personalidade, Smierdiakóv é cínico e falso ingênuo em suas conversas com Dmitri e Ivan, enquanto bajula e é visto como homem honesto por Fiódor Pávlovitch. Por fim, assassina Fiódor arrumando as provas necessárias contra Dmitri e a responsabilidade moral do crime a Ivan, intelectual do parricídio. Procura induzir, também, em seus depoimentos, tanto o promotor quanto o advogado de defesa de Dmitri, mas, este, não cai. 

     No centro desta família destroçada aos poucos, resta a figura de Fiódor Pávlovitch, cujas raízes matrimoniais passam por dois casamentos, três ou quatro filhos completamente abandonados e diversas orgias em casa. Como argumenta no julgamento de Dmitri, Fietiukóvitch, Fiódor não pode ser chamado de pai (aliás, uma das questões centrais mais tarde para Freud, ou seja, o que é um pai, sua função e não sua existência).